sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

PQP DAY

"Ontem foi uma merda!"
Arregalei os olhos. M., 32 anos, migo de pouco tempo, casado com uma mulher gente finíssima e com um filho de 6 anos. O cara parece uma noviça, de tão calmo e sossegado, nem fala palavrão. Imaginem então ele se referir desta maneira o que significa. Estava tomando café com ele, no intervalo.
"Acordei atrasado e com dor nas costas. Fui tomar café e meu filho derramou nescau em mim. Troquei de roupa e briguei com ele. Minha mulher brigou comigo. Peguei o onibus e levei uma cotovelada. A guria que saiu de férias me deixou cheio de trabalho dela por fazer e não falou nada. Meu chefe passou tudo pra mim. Fiquei sem almoçar pra adiantar. Me deu dor de cabeça. Cheguei em casa, e minha mulher tava toda esquisita. Deixou meu guri com a minha sogra "pra a gente discutir a relação". Trouxe de lá lasanha de berinjela - ele é alérgico! - e quando eu resolvi comer outra coisa ficou bicuda. Fui pro banho e lá dei um belo grito e xinguei de tudo quanto é nome. Tomei um dorflex e fui dormir. A vizinha veio perguntar porque daquela gritaria. Eu nem quis saber. Fui dormir no quarto do guri. Merda de dia!!!"
Eu dei risada.
"Você estava no seu PQP DAY."
"PQP DAY? Gostei...é um bom nome..."
Todo mundo tem seu PQP DAY. Alguns tem PQP moments. Outros PQP week. Varia conforme o azar. Ou condição monetária. Ou TPM. É aquele momento que você quer sangue. Quer jugular. Quer bife mal passado, quer briga.Você quer que o mundo exploda. Que todo mundo saia correndo. Se alguém te olha você mata com o olho. Se alguém fala um "A" a terceira guerra começa. A bomba está armada. Salvem-se!
Não é a toa que fizeram um filme sobre isso. Aquele com o Michael Douglas, "Um Dia de Fúria". Eu que sou avessa a violência achei o máximo. Eu sempre quis num PQP DAY pegar um taco de beisebol e quebrar todos os carros estacionados.
Se você não ler todos os posts deste blog, você já sabe...

Eu conheci gente que tinha PQP moments variados e bem estranhos. Eu tinha uma amiga que tinha dessas quando dormia mal. Café resolvia super bem. Um conhecido meu tinha dessas quando o São Paulo perdia e o Corinthians ganhava. Nossa, o cara parecia possuído. Minha tem quando alguém deixa pra acordar depois das 10 da manhã. Minha mãe quando a gente não ajuda ela a limpar a casa na sexta-feira. Outro amigo tinha quando não tinha catchup no sanduíche. Minha miga Dani tinha dessas quando levava cantada de pedreiro. Eu tenho no primeiro dia de TPM.
Estes dias são foda. São dias que a gente quer se esconder na cama, com a TV e um balde de pipoca. Sair é perigoso. Falar com alguém também.
Eu acho que estes dias são terríveis. No trabalho a gente não rende nada. A gente parece que atrai coisas ruins. Você deve conhecer uma pessoa brilhante que um dia fica desse jeito. É muito chato.
Eu passei por isso nesta semana. PQP WEEK. Tive cólicas terríveis (TPM) na segunda, de me contorcer de dor. Tomei remédios e fiquei chapada. Adeus segunda-feira. Meu computador travou. Deu pau na memória e paguei 80 reais pra consertar. Adeus terça-feira. Fui para a Embrapa e não consegui fazer o que precisava, o computador deu pau de novo, levei pro conserto. Adeus quarta-feira. Fui pro laboratório e quebrou uma placa de petri na autoclave recém limpa. Tive que limpar. Demorou. Fui de bike no chuvisco pra casa. Adeus quinta-feira.
E hoje cheguei atrasada na Embrapa porque perdi o onibus. Falei bem rápido com a minha orientadora, peguei o onibus e fui buscar o computador. Queimou o HD. Preço: 185 reais. Merda. Não tinha o cash. Demos um jeito. Levei o computador pra casa. Me deu enxaqueca. Percebi que teria que trabalhar no sábado de novo. Já fiquei mal humorada.
Minha PQP week foi foda.
Mas dae sentei pra escrever e relaxei. Acho que minha PQP week acabou. Assim espero.
Cada um tem sua maneira de dissipar esta urucubaca. Eu dissipo com banho e cama. A Dani com uma bela porção de batata Pringles. Minha não dissipa até almoçar e dormir um soninho. Varia. Mas acaba!
E eu agora descobri que escrever aqui também ajuda! que bom!
Tomara que seu PQP moment seja beeeeeem curtinho! E que acabe logo!
Se não for, lembre-se do meu amigo, que me confidenciou que no fim da noite ele acabou indo dormir com a esposa e ela chutou ele nos "países baixos" sem querer.
E dê risada. Eu ri!
Beijos e até breve!
Ps: atendendo a dúvidas da Mix, Wil é ator e modelo.
Ps2: gostaria de divulgar o blog da Odele, chamado "Flávia vivendo em coma". Assinem a petição sobre segurança nas piscinas. A molecada agradece!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

As diferenças dos sexos

"Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas"
(Meninos e meninas - Legião Urbana)

Lembro até hoje o choque que tive quando, ao ler uma revista na década de 90 (uia, agora me senti veinha...), um reporter falava do frisson que causou este trecho desta música. Eu não entendi. Qual o problema de gostar de santo? E de meninos e meninas? Eu gosto de andar com qualquer um deles!

Na minha ingenuidade, não percebi sexismo, até ler o que foi escrito a respeito.

E eu não gostei. Diferenças de qualquer jeito são terríveis. Que o digam os negros, os indígenas, os homossexuais, as mulheres.

A semana passada eu lidei com duas situações que me fizeram refletir sobre o sexismo das coisas.
Esta eu andando de bike (a Moon!), quando passava pela ciclovia do Botânico. De capacete (protege e se faz respeitar), luvas (machuca as mãos sem elas), ia bem sossegada quando passou um carro.
E os rapazes gritaram: "Volta pra casa e vai fazer comida, bicicleteraaaa!!!!!"
O QUÊ?????
Eu não entendi. Quer dizer que eu, por estar de bike, eu estava ofendendo alguém? Que mulher não deve andar de bike? Que por eu estar usando outro transporte independente estava cometendo um ato ruim contra o meu sexo?
Machismo puro...
Notei aí algo interessante: nunca vi matérias de ciclismo profissional feminino! Só tinha visto algumas sobre provas de velocidade masculina, e cicloturismo com grupos de rapazes.
Será que só homens podem entrar em grupos de ciclismo? P
Para provar a mim mesma que não, entrei em sites dos grupos e surpresa! Quem comanda o Clube de Cicloturismo Brasileiro é uma mulher!
Mas não fiquei orgulhosa não. Fiquei com vergonha de me sentir bem por isso. Afinal, o ideal era a gente não se sentir mais ou menos bem por causa do sexo.
Lendo mais, descobri que a bicicleta foi uma arma da revolução sexual feminina. Tudo porque a forma de andar era considerada masculina (não se anda de lado, como quando andavam a cavalo...), e as mulheres tiveram que usar calças. Dae deu no que deu!!!

(sim!!!!!!!!)

Na mesma semana, tive outro exemplo de diferenças de sexos.
Estava eu a ler umas reportagens, quando vi uma que me deixou de queixo caído. Um rapaz processou uma mulher na Bélgica, sendo ela 7 anos mais velha que ele, acusando-a de ter usado o corpinho dele para se tornar mãe. A mulher e o rapaz saíram juntos, transaram e tal, e acabou. Muitos meses depois, ele encontra ela com um bebê...que era a cara dele. Bingo! Adivinha...ele processou-a não por não ter falado a ele e negligenciado sua condição de pai, mas por ela ter mentido a respeito do anticoncepcional, "com a clara intenção de usufruir do relacionamento para ficar grávida".
Eu acho que na verdade ele processou-a porque foi ferido no seu lado masculino...
Eu me recordei de um rapaz com quem saí anos atrás. Saímos, nos divertimos, tudo ótimo, um dia ele se volta pra mim e diz que não quer mais.
Por que? Perguntei. A resposta certa demorou, mas saiu.
Eu era demais.
????????????????????
Inteligente demais. Bonita demais. Esperta demais. Simpática demais. Alegre demais. Fazia dança do ventre. Cuidava do corpo. Me vestia bem. Me dava bem com todo mundo. Não era ciumenta.
Era demais pra ele!
Inseguro, ele me contou que não ia dar conta e preferiu correr (ele foi sincero demais).
Eu fiquei pasma. Passei a achar todos os homens covardes. Se eu estivesse com alguém demais, ia lutar até o fim por esta pessoa! A gente não vive atrás de pessoas perfeitas pra nós? Quando achasse uma, eu ia correr dela? Claro que não!!!!
Passei a tratar os homens com raiva. Se o rapaz demonstrasse medinho perto de mim, eu escrachava. Homens tem que ser corajosos!!!!
Claro que aos poucos, fui vendo que coragem não tem nada a ver com sexo, e me arrependi de agir assim. Na minha profissão, vi muito isso. Mulheres serem tratadas mal por quererem fazer trabalhos que exigiam força e agilidade, esperteza e coragem (trabalhos "masculinos"), e homens serem tratados de forma "alegre" por fazerem pesquisas que exigiam delicadeza com as mãos, paciência, quietude, olhos clínicos (trabalhos "femininos"). Barreiras foram sendo quebradas. Os homens acrescentaram seu raciocínio lógico e sua imparcialidade, as mulheres sua delicadeza e calma. Complementaram muito bem. O meio ambiente e as pesquisas agradeceram de joelhos!!!
Hoje, ainda há exemplos ruins em todos os lugares, todas as profissões. Que bom que alguns não vêem e seguem em frente!
Hoje, algumas pessoas ainda se assustam quando vêem a questão do sexismo. Eu noto que é muito forte. Existe diferença entre usar seu sexo como arma de subjulgar e exercer seu sexo com plenitude. Mulheres podem falar grosso e usar saias. Homens podem chorar e jogar rúgbi (eu não conheço jogo mais masculino que esse!). O que importa é o que a pessoa FAZ. Se ela entende de computação (né Fernanda?), ou usa o corpo como ferramenta de trabalho (né Wil?), qual o problema?
Problema é difundir que lugar de mulher é na cozinha e do homem é em cima de uma bicicleta!!!
E vou continuar bicicletando!!! hehehehehehehehehehehehehe
Beijo e até breve!!!
Ah quem quiser ler sobre a revolução da bicicleta na vida das mulheres (seja você homem ou mulher), vale a pena! é super interessante! veja aqui.
PS: refiz os testes com meu extrato...Adivinhem! Não funcionou!!! E eu ri! As coisas ficam diferentes quando a gente as vê diferente!!!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O amor não correspondido

Olá!
Como foi de Carnaval?
O meu foi trabalhando...também...claro que tirei uma folga gostosa, assisti filmes e me diverti. Mas com a cabeça cheia.
Eu testei meu maior experimento-piloto neste feriado, aproveitando que não tinha quase ninguém no laboratório.
Fui todos os dias, preparei tudo com carinho, armei o cenário todo.
E ontem descobri que não funcionou.
Eu chorei muito. Era como se meu coração tivesse partido.
Quem já dedicou seu tempo a algo que ama, que contou dias por aquilo, que faz de tudo e não dá certo sabe o que é essa sensação.
Eu amo o que faço com todas as fibras do meu corpo. Meus olhos brilham quando falo da planta que estudo, do que ela é capaz de fazer, da maneira majestosa que ela cresce em matas tão ameaçadas. O poder dos seus frutos. A beleza da cor daquelas coisinhas em cachos gigantes e como eles mancham a roupa.
E não funcionou.
Eu só sabia chorar. Minha alma estava em frangalhos, enquanto eu pedalava de volta pra casa. Eu queria sumir.
E quando liguei para pedir uma palavra de consolo, meu pai me disse: "Pense que vc pelo menos está com saúde, que vc está firme no que quer. Se fosse um problema grande, mas esse seu problema é tão pequeno perto dos outros problemas dos outros."
Juro que tive vontade de manda-lo pra P...QUE PARIU!!!!
Os meus problemas são os mais importantes para mim, porque são MEUS! E quem me conhece e sabe como levo com seriedade o que faço e confia em mim sabe que aquele momento era decisivo para mim.
Quantas vezes julgamos alguém assim? Achando que a pessoa está fazendo tempestades em copos de agua?
A minha tia Ana, com quem tenho bem menos contato, me deu o melhor conselho que podia dar:
"Chora mesmo, se entupa de chocolate, vai tomar um banho e dormir que amanhã vc de cabeça fria pensa melhor!" E minha completou: "Chora não, amanhã é outro dia! Vc consegue!"
Aquilo e a bíblia acalmaram a minha alma assim que cheguei em casa. Depois, falando com pessoas especiais para mim, todas me animaram a não desistir.
Eu não pensei em desistir. Sou muito teimosa pra tanto. Mas desanimar eu desanimei.
Quantas vezes um time perde antes de ganhar campeonatos? Quantos tombos tem o atleta antes de vencer? Quantos "não" recebeu o hoje empresário quando era um office-boy? Quantas vezes Newton tentou fazer a lâmpada funcionar?
E eu tentando uma vez só fiquei mal?
Ah não!!! Pára com isso!!!
Eu não estou muito inspirada hoje, mas consegui escrever isso e acho que tudo bem...
Tudo vai dar certo!
Beijos e até!!!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

a solidão necessária

Esta semana começou um furacão...
Diferente de outras semanas, em que segunda-feira era morna e terça-feira explodia, essa começou com sábado de caos.
Não vou entrar em detalhes, porque não aconteceu comigo. As coisas que aconteceram foram com outras pessoas, vizinhos meus.
O que posso dizer é que depois de tanta coisa, eu precisava colocar pra fora. E não conseguia. Não conseguia chorar, não conseguia gritar.
Então, resolvi pegar minha bike, a Moon (é, ela tem nome...é porque ela é prateada), e sair sem destino.
Primeiro dia: andei toda a ciclovia que leva ao Prado Velho. Fui até o fim que dá num matagal. Andei horas, com cansaço e suor pelo corpo, sem parar, sem pensar, só fazendo força pra correr o máximo que dava.
Não adiantou nada.
Segundo dia chutei o pau da barraca: peguei a Moon e fui até Pinhais. Meu corpo pedia descanso. Minha cabeça pedia água. Minha alma pedia que eu corresse cada vez mais. Minhas lágrimas escorriam pelo interior do meu espirito.
Eu não andava de bike, eu estava fugindo. Fugindo dos problemas, daquilo que vi e me senti diminuída, das lágrimas dos outros, do meu trabalho dando errado, das contas a pagar, da solidão e da carência. Só a Moon me compreendia. Se eu explicasse ninguém entenderia.
Pela primeira vez na minha vida a solidão que eu sentia era um bálsamo. Eu me sentia feliz e aliviada por estar só.
E ali entendi quando amigos meus corriam para academia, e lá se matavam em exercicios sem falar com ninguem. Ou quando alguem pegava o carro e saía sem destino. Ou quando via uma pessoa simplesmente se sentar e olhar o vazio.
É um momento perigoso. Eu digo isso porque minhas pernas estourando me avisavam do abuso. Imaginei quem se tranca em casa, quem precisa estar com alguem, quem pega o carro, quem não tem pra onde correr.
E nestes momentos vemos as pessoas perdendo o controle. Eu quase perdi o meu.
Eu imagino que isso acontece com todo mundo algum dia. Nós aprendemos a não chorar. A não gritar. É fraqueza.
Será? Será mesmo?
Eu acho que quem chora por ver um grilo é bobo. Mas quem chora porque não aguenta mais é sem dúvida a mais forte das pessoas. Porque sabemos que esta passando em cima de qualquer coisa, por cima de sua propria convicção, para derramar aqueles filetes pelo rosto. Sua dignidade ferida, sua vergonha, a impressão dos outros. Nada existe. Só aquele sentimento. Só ele.
E hoje, com uma puta dor nas pernas, olhei a janela e pedi a Deus, às estrelas, que trouxessem paz ao meu espírito. Ao espirito de todos que amo. De todos que conheço e hei de conhecer. Porque ainda não consegui chorar. Embora as lagrimas escorram pelo meu espirito. Mas aos poucos elas vão embora.
Chorem quando quiserem. Quando puderem. E quando não puderem também. Sejam livres. Assim como eu estou tentando ser agora.
Beijos e até breve!!!