segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O preto, o branco e o arco-íris


Olá!
Esta semana quero comentar sobre um filme.
Raramente eu assisto filmes indicados ao Oscar. Sou daquelas que suspeita de elogios demais. Lembro de ter visto uma vez uma crítica sobre um filme indicado, e ao assistir notei um total desgaste de enredo. Em suma, odiei o filme. A mesma crítica detonou outro filme, e ao assistir saí suspirando de feliz, porque adorei tudo.
Então imaginem como fiquei desconfiada ao ver críticas ao “Cisne Negro”. Não curto balé, e não conhecia a história, mas o trailer me chamou a atenção. De tanto vê-lo, comecei a ficar obcecada, querendo a todo custo ver o filme todo.
Mas, antes disso resolvi relembrar. Lembrei do que conhecia sobre cisnes. Além da história original do patinho feio, lembrava de tê-lo visto em algum lago da cidade. Deslizando pela superfície, com a cabeça baixa, uma atitude que parecia humilde em seu pescoço curvilíneo. As asas longas encolhidas ao corpo pareciam de algodão. Um animal gracioso, etéreo, um reflexo de beleza casta e sábia da natureza.
Mas de repente eis que abriu as asas, e se revelou a majestade. Ergueu imponente a cabeça, e sua postura vencia qualquer rigidez. As asas enormes o elevaram sem esforço, e ele voou como se fosse feito do próprio ar.
Fiquei sem fôlego. Acho que por isso o cisne inspirou o balé. Assim, assisti ansiosa o filme.
E saí em estado de choque. Claro que o filme teve 50% do efeito, mas o fato de eu me ver ali na telona me deixou pasma. Semana passada falei sobre o equilíbrio entre o amargo e o doce da vida. Mas ali eu via o frágil equilíbrio entre o bem e o mal que existe dentro de cada um.
Eu tenho uma Patrícia “lado negro”, digamos assim, dentro de minha psique. Ela é debochada. Irônica. Usa roupas rígidas, olha de canto de olho para você. Com seus lábios pintados de cor escura, um cigarro no canto da boca, ela faz você se sentir um imbecil. Ela te humilha, ela nem faz caso de você. Procura suas feridas e as rasga sem dó. Ela não sente nada. Ela está acima de você. E de mim. Ela é vulgar, sem moral nem escrúpulo. Rouba e engana, exige e não paga. Eu a olho com pena. Ela é tão carente de amor verdadeiro que se protege em couraças, fazendo de conta que sempre ganha. É realmente um espetáculo bizarro.
Ver na tela a frágil bailarina encontrar sua versão negra é algo assustador. Mas se identificar é pior.
Quantas vezes durante estas semana sinto aquela Patrícia negra me agarrar e me puxar, querendo meu sangue? Às vezes vindo a tona, querendo que eu deixe de ser esta mulher com a saúde fragilizando, a mente girando e a alma em frangalhos. Ela não precisa disso, logo eu também não.
Ironicamente, meu pior inimigo mora dentro da minha mente, me torturando, me enchendo de culpa por não fazer meu trabalho corretamente, me acusando de fazer pouco caso, me exigindo perfeição, me acusando de ser uma vadia. Quando acordo ela ri dentro da minha alma, dizendo “E aí, vai trabalhar ou vai fingir que gosta de estar lá, com a bunda na cadeira, fingindo que vai ser alguma coisa na vida? Se acha esperta é? Fique em casa...”
Mas eu vou. A tortura continua. Ela me diz que está com fome e me tenta a comer algo caro, mas me joga na cara que não tenho dinheiro, porque a bolsa de estudos o governo não pagou, e quem escolheu esta vida miserável foi eu. Me fala da possibilidade de viajar, mas você não tem dinheiro! Me fala de receber um abraço de algum cara gentil e carinhoso, que te ama de verdade, mas há! Isso não existe sua trouxa! Eles só querem aquilo que sempre querem!
Fala aos meus ouvidos, sussurando, que as pessoas só me suportam, e que todos têm pena de mim. Para que trabalhar nesta porcaria? Ela não te leva a nada. E você nem consegue fazer direito.
Aí mando ela calar a boca, e ela ri da minha cara.
Assim, minha mente gira. Às vezes penso se não estou enlouquecendo. Não vale a pena. Mas quem decide o que pode ou não? Sou eu? É ela?
Me agarro em Deus e Ele me consola. Na minha imperfeição, eu tento continuar. E vou aos poucos. Mas confesso que quero terminar de uma vez esta tese e sumir daqui, antes que seja tarde. Quero ver o arco-íris!
Assim, quando ver meu silêncio, não estranhe. Estou batendo boca comigo mesma.
Beijos a todos!




2 comentários:

  1. Tb assisti Black Swan ontem! Adorei! É pesado e confesso que não dormi bem e ainda estou sendo torturada pelas alucinações dela e pela dor da descoberta de mim mesma, que eu já senti tb. Pesado, essa é a palavra pro filme. Bem pesado ele é!
    Todos nós precisamos dos dois lados. Com um só somos incompletos, mas equilibrá-los é a chave, a dificuldade. Um deles vive tentando vencer. E a gente sofre por ser dois, por ser mil...

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  2. Oi Vivien, em primeiro lugar, senti sua falta essa última semana, quase não a encontrei, pode ser virtualmente, mas você é ótima companhia.

    Lembro de um desenho que passava nos anos 80, nele tinha dois super homens, o dessa realidade e o super homem bizarro, tudo era " às vexas " e assim como tua outra " Patricia " ele era irônico, e atormentava o gente boa, como todo desenho para crianças, ele sempre era vencido pelo o que representava o lado bom da força, e hoje eu sei o porque disso acontecer, é porque o bem tem sempre que se sobrepor, não que isso aconteça toda vez, mas que deve ser assim, deve.

    Luis Antonio Mendes

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